A importância da participação dos pais na construção do Projeto de Vida de crianças e adolescentes.

Não é incomum que com o passar dos anos, especialmente ao se aproximarem os ricos anos da adolescência, os filhos vão trocando o “mãe” pela “mãeeeee”. Aquela carinha gostosa do filho que fica grudado na mãe, da filha agarrada no pai, partindo dos 10, 11, 12 anos em diante, justamente pela chegada muitas vezes repentina da adolescência, muda a feição, muda o tom de voz e muda a postura. O humor muda e, muitas vezes, aquelas conversas em que o filho quer contar tudo, perguntar tudo, saber de tudo, de repente se fecha num outro momento.

Vamos então entender o que é exatamente a chegada da adolescência e qual é a participação dos pais nesta etapa da vida.

Quando a criança é nova, ela tem muita curiosidade. Ela tem muita inventividade. Ela tem muita abertura ao novo e é natural que ela seja, então, humilde e aberta a querer compartilhar, saborear, experimentar e vivenciar tudo junto com a família. Seus projetos de vida, pensando nas mais diversas áreas, são vividos de forma bastante livre e quando se pergunta, por exemplo, do que ela mais gosta de comer, ou ela responde que gosta de um monte de coisas ou responde: “só gosto disso”. Há outras até que passam meses, às vezes, comendo batata frita com sorvete de morango!

Se pensarmos então na questão profissional, crianças pensam de maneira bastante abstrata, porém bastante liberta de crenças ou preconceitos.

“Eu quero ser modelo”, “quero ser Youtuber”, “eu quero ser um Gamer”, “quero ser o próximo Neymar”, “eu quero ser isso ou aquilo”, são expressões que vêm do coração, sem o filtro de um cérebro, ainda, muitas vezes, apequenado.

Digo isso porque, infelizmente, há quem pense que escolher uma profissão ao final do ensino médio é muito cedo: “mas não é muito cedo escolher uma profissão ainda nesta tenra idade?”. Penso que muitas vezes é justamente o oposto.

Se uma criança cresce ouvindo que existem profissões de homens e de mulheres, que isso dá dinheiro, aquilo não, que isso aqui é bonito e aquilo não tem tanto valor, que isso estuda muito, aquilo não. Se ela cresce assim, no lugar de ir se tornando cada vez mais adulta, ela pode ir se tornando mais adulterada. Sim, eu sei, a expressão é forte. Porém, um cérebro amedrontado, apequenado, recheado de preconceitos, estaria como então?

Existe uma adulteração, diante de si e diante do mundo, quando não permitimos que um ser humano pegue o futuro nas mãos, e mais, que faça uma escolha que não seja auto centrada. Explico.

A planta Vitória Régia, por exemplo, não poderia viver no meio do oceano, pois lá não é o seu ambiente, o seu habitat.

Da mesma forma o bambu. Ele tem localidades onde cresce bem e outras onde ele não vinga. Todos os seres vivos têm o seu loco, seu local de habitar. Da mesma forma nós, humanos, seja pela nossa natureza, pelos nossos valores, pelo nosso jeito de ser, vamos nos sair melhor, vamos florescer, vamos dar melhores frutos para o mundo se estivermos dentro de um avião; outros de nós se sentirão bem num atelier de costura, outros trabalhando com planilhas, com auditoria, com cálculos de risco ou empréstimos financeiros. Há aqueles entre nós que florescem nos campos de futebol, ou nos recitais, dentro de câmeras, trabalhando com instrumentos musicais sofisticados e há, felizmente, aqueles dentre nós, que florescem nas salas de aula.

Enfim, nas mais diversas situações podemos ver um ser humano com brilho no olho quando ele está em contato com a sua natureza e fazendo algo que tem a ver com o seu propósito pessoal. Mas eu lhe pergunto: a maioria das pessoas que você vê no seu dia a dia é assim? Começa a segunda feira animada, com brilho no olho, com a sensação de estar viva?

Infelizmente não é isso que vemos na maioria das pessoas, não é? Um número muito grande de pessoas, hoje, aliás, escolhe a sua profissão, falando aqui do projeto de vida profissional, baseado no desejo de status, de popularidade, de ser visto ou na ideia de ganhar dinheiro.

Mas, cabe aqui uma questão: o que dá dinheiro? Nada dá dinheiro e tudo dá dinheiro. Fazer a sobrancelha dá dinheiro, consertar um instrumento musical dá dinheiro, fazer uma capa de livro dá dinheiro, aplicações financeiras dão dinheiro. Ser médico, ser professor, ser artista. Tudo isso dá dinheiro e nada disso dá dinheiro. Todos conhecemos um médico que ganha X e outro que ganha 20 X. Ambos são da mesma profissão. O que diferenciou este daquele, é a trajetória profissional. E tem mais, as pesquisas mostram que acima do que chamamos, convencionalmente nos países ocidentais, de classe média, mais dinheiro não traz mais felicidade. A felicidade tem a ver com a sensação de propósito, de significado, de ter orgulho de ser quem se é, de acordar animado, expressão que tem a ver com ânima, com a alma!

A pessoa que acorda se sentindo útil, digna de valor, relevante para a sociedade é uma pessoa rica por dentro. Não seria esse o fruto desejado para filhos e filhas em relação ao seu futuro? Afinal de contas, quando um jovem aposta o seu projeto de vida na ideia de ser rico ou famoso, ele está fazendo uma escolha adulterada, deslocada da pessoa que ele é. Nem todas as pessoas ricas ou famosas são felizes. É preciso então termos, nós adultos, seja na sala de aula ou na sala de casa, a consciência do nosso papel. É preciso, sobretudo, com a chegada da adolescência, uma fase em que são processadas mudanças intensas no cérebro, entendermos que aquele ser que está diante de nós pode ser nosso filho, mas não nos pertence. Pertence a si, pertence à vida, pertence ao destino.

Cada um de nós, se nasceu, é porque, aos olhos do Criador, tem uma função na vida, tem uma função neste mundo, tem algo a contribuir. Que maravilha uma criança, um adolescente, que cresce ouvindo de seus pais que todas as profissões são importantes. Que maravilha uma criança, um adolescente, que quando passa por um supermercado, ouve de seus pais: “olha que linda esta embalagem, foi feita por um Designer”, “nossa, olha que organizada esta seção”, “como é bom quando tem um profissional que organiza, e sabe quem faz isso, filho? Pode ser um Arquiteto, pode ser um bom Administrador, pode ser um Designer que projetou o jeito certo de colocar esses sapatos na vitrine”. “Filha, olha que atendimento bom desse Garçom, que gostoso, como ele fez a gente se sentir bem no restaurante, não é?!”, “filha, me conta qual é o Professor que você mais gosta, qual é o jeito dele dar aula e como você se sente quando você está na frente dele?”. Ajudando o filho, ou filha, a perceber atitudes positivas, comportamentos que agregam, e claro, o oposto disso, e também sensibilizando-os sobre a importância de todas as formas de trabalho, os pais estão ajudando o filho a perceber, dentro de si, o que lhe toca, o que lhe comove, o que lhe move. Isso já é um bom passo.

Explicando sobre como funciona o mundo e a relação entre as coisas, estou auxiliando meu filho. Outro exemplo: se tenho uma pequena obra na casa: “puxa, qual é o profissional que projeta uma casa, filho? E filha, ele projeta casa, vamos imaginar o Arquiteto, e de quem mais a gente precisa quando vai fazer uma residência? Precisamos de um Urbanista!”, “e o que faz o Urbanista, pai?”. É aí que entra o pai, a mãe, generosos, mostrando que ele refaz todos os cuidados ambientais com o planejamento de ruas, praças, questões que tem a ver, inclusive, com o sanitarismo e planejamento de jardins, praças e deslocamento de pessoas e até automóveis. E tudo isso também se consagra com o profissional que é o Administrador, que vai junto com o Arquiteto ver os prazos, os preços, os recursos, as pessoas.

Quantos profissionais estão envolvidos, por exemplo, na criação de uma chuteira, de uma bola de vôlei, na criação de um game? O Designer, o Antropólogo, o Psicólogo, o Economista, o Engenheiro. Quantos profissionais estão envolvidos aqui?

Com isso, além de ampliar o repertório de conhecimentos sobre as profissões, os familiares vão trazendo pistas importantes para aguçar a curiosidade dos alunos, alunas, filhos e filhas.

Assim, tendo o espírito aberto, ampliando o repertório de conhecimentos, abrindo-se à curiosidade e crescendo com a percepção de que todos temos valor e que o trabalho é uma forma de cuidar da sociedade e contribuir com o bem maior, que é o bem comum, naturalmente o filho e a filha, num determinado momento no final do ensino médio, poderá se sentir muito mais encorajado a usar a sua própria autonomia e assumir por onde deseja começar a sua carreira profissional.

Lembre-se: não existem estudos sérios mostrando que existem profissões de homens ou de mulheres. Lembre-se: todas as profissões são dignas de valor. Lembre-se: em todas as profissões, se queremos realmente fazer a diferença, teremos que estudar, nos dedicar e nos esforçar muito. Lembre-se: todas as profissões precisam uma das outras.

Se você tiver o seu coração em paz e conseguir transmitir com esta mesma paz interna esta complexidade, esta humanidade em relação à visão sobre as profissões, o resto é saber esperar e ouvir com curiosidade, humildade e vontade de saber mais o que nos espera pela frente.

Com isso, uma criança não precisará temer o futuro, a mudança das profissões, a chegada da inteligência artificial, pois ela saberá que dentro dela tem uma fagulha de vida, tem uma semente de esperança, tem uma luz do amanhã que brota no seu coração e ilumina o por vir. Pais generosos têm filhos mais encorajados para pegar o futuro nas mãos e construir o amanhã que querem e merecem.

Texto: Leo Fraiman
Foto: Depositphotos
Fonte: https://capacitaopee.com.br/

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